Nós, seres humanos, experienciamos diversas “mortes”, simbólicas e concretas, diariamente.

Para as crianças, as mortes simbólicas, podem ser vivenciadas e sentidas ao largar a chupeta; ao quebrar um brinquedo; brigar com um amigo; mudar de casa; ou diante da separação dos pais; entre outras. Além de todas essas perdas importantes, a criança pode vivenciar também a morte concreta de um ente querido ou de um animal de estimação.

Nem toda perda origina um luto, mas independentemente da idade, toda criança pode enlutar-se.

A cultura atual procura poupar a criança do contato com as mortes concretas, evitando levá-las aos hospitais, velórios ou cemitérios, o que dificulta a compreensão da morte como algo natural.

Essa compreensão da morte costuma variar de acordo com o período do desenvolvimento cognitivo em que a criança se encontra.

0 a 2 anos: A criança vive tudo corporalmente, não há simbolização, portanto não há conceito de morte. 2 a 6/7 anos: A morte é reversível para a criança e quando alguém morre, pode sentir raiva.  6/7 a 11/12 anos: A morte passa a ser compreendida como irreversível. A criança teme a dor da morte. Quando alguém morre pode sentir culpa, pois pode perceber essa morte como um ato de justiça ou punição por alguma falha que tenha cometido. 11/12 anos: Início da puberdade. A morte é irreversível, universal, pessoal e distante. As explicações são de ordem natural, fisiológica e teológica. A criança compreende e teme a morte.

Em qualquer fase do desenvolvimento infantil, a morte deve ser abordada de maneira objetiva, verdadeira e clara, desconstruindo pensamentos mágicos, que podem gerar culpa, raiva e etc e evitando metáforas que dão margem a associações negativas, como “ele/a foi descansar”, “ele/a está dormindo”, “o papai do céu levou” ou “ele/a virou uma estrelinha”. Tais metáforas podem ser interpretadas de maneira concreta pela criança e gerar crenças ou sentimentos confusos. Independente do passar do tempo, é necessário criar espaços para falar e exprimir emoções.

Se a criança deseja participar de velórios e enterros, deve participar, recebendo anteriormente explicações claras do que vai presenciar. Se durante o ritual ela não quiser continuar presente, ela deve poder ausentar-se.

A criança sinaliza quando está tendo dificuldades de lidar com a perda. É necessário estar atento ao rendimento escolar, atenção, concentração, memória e alterações comportamentais e fisiológicas (sono, apetite, dores de barriga, dores de cabeça). Estes são, muitas vezes, sinalizadores externos das manifestações emocionais (dor, sofrimento, ansiedade, depressão, medo) e cognitivas (preocupações, dúvidas, crenças disfuncionais) que as crianças vivenciam.

Quando os sinais persistem e são notadas dificuldades no manejo do luto infantil, é indicado o encaminhamento para psicoterapia de luto.

Paula Leverone (CRP 08/18775)
Mariana Bayer (CRP 08/19103)